AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE LEISHMANICIDA in vitro DA LECTINA de
Vatairea macrocarpa (Benth.) Ducke
Leishmania. Leishmaniose Visceral. Lectina. Vatairea macrocarpa. VML
As leishmanioses representam um espectro de doenças negligenciadas que aflige milhões de
indivíduos em todo o mundo. O tratamento das leishmanioses permanece o mesmo há décadas
e consiste, particularmente, no uso de antimoniais pentavalentes. Ressalte-se, que esses
medicamentos apresentam importantes efeitos colaterais. No cenário atual, com limitação de
tratamentos alternativos, a investigação por outras opções é um real desafio. Produtos naturais
são importantes fontes de compostos com diversas aplicações terapêuticas, com especial
destaque para as lectinas. A VML (Vatairea macrocarpa Lectin), lectina extraída das
sementes de Vatairea macrocarpa, com especificidade de reconhecimento e ligação aos
carboidratos α-D-galactose/N-acetilgalactosamina, tem se mostrado uma ferramenta
biotecnológica com aplicações promissoras. O presente estudo teve como objetivo avaliar, in
vitro, o potencial leishmanicida da VML utilizando-se a Leishmania infantum. Formas
promastigota foram incubadas com diferentes concentrações de VML (13,8 – 0,4 μM); além
disso, a CI50 foi incubada em associação à galactose a fim de avaliar a participação do
domínio de reconhecimento de carboidratos (CRD); a densidade celular dos parasitos foi
determinada por contagem em câmara de Neubauer. Ensaios de fluorescência com diacetato
de 2’,7’-diclorodihidrofluoresceína (DCFH2-DA) e Iodeto de Propídio (IP) foram realizados
para avaliar a possibilidade do envolvimento de espécies reativas de oxigênio e danos às
membranas como prováveis mecanismos de ação da VML. O efeito citotóxico da VML sobre
macrófagos Raw 264.7 foi verificado através do ensaio MTT; avaliações adicionais foram
realizadas para identificar o provável efeito da associação da VML a Anfotericina B e ao
Glucantime sobre as formas promastigotas, bem como sua citotoxicidade sobre macrófagos
Raw 264.7. A VML foi capaz de inibir o crescimento das formas promastigotas de maneira
concentração e tempo dependentes, com valores CI50: CI50/24h = 11,4 ± 0,03 μM; CI50/48h
= 6,7 ± 0,04 μM; CI50/72h = 4,7 ± 0,02 μM. Os resultados mostraram que o efeito
leishmanicida está relacionado à capacidade da VML de reconhecer glicanos de L. infantum e
que o tratamento dos promastigotas com VML induz estresse oxidativo e danos à membrana
dos protozoários. Além disso, a lectina não apresentou qualquer efeito tóxico para células de
mamíferos (Raw 264.7). A associação da VML com Anfotericina B e Glucantime melhorou a
atividade desses fármacos, além de reverter seu efeito citotóxico nas células Raw 264.7.
Nossos achados sugerem que VML é uma promissora alternativa para o tratamento das
leishmanioses. Contudo, mais estudos são necessários para melhor entendimento de seu efeito
sobre as formas amastigotas intracelulares, sua ação sobre o repertório de citocinas nas células
imunes envolvidas na resposta anti-Leishmania, assim como seus mecanismos moleculares
nos sistemas biológicos.